mini-estágio #1 .

Hoje às nove da manhã, como combinado, lá estava com a H. no João de Deus. Antes levantei-me muito cedo, ainda era de noite, vi o sol nascer pela janela do comboio. Cheguei com tempo de ir a pé da estação até lá. Chegámos e ainda estavam a chegar crianças, maior parte delas com os pais a acompanhar com o beijinho de despedida. Senti-me como se fosse o primeiro dia de aulas. Ver todo aquele cenário fez-me recuar doze anos... o cheiro ao produto do chão, o próprio cheiro da escola a transbordar crianças, felicidade,... todo um misto de coisas que me deixou quase de lágrima no olho e com pena de não ter seguido a Escola Superior do João de Deus, mas no money, no honey. Ainda que não tenha sido naquela escola que passei uns dos melhores anos da minha vida, trouxe-me memórias na mesma. 

Começámos por assistir às aulas do 1º ano [bibe castanho]. A professora mostrou-se logo interessada em nós e no que ali estávamos a fazer. Os miúdos ficaram muito irrequietos ao início, afinal éramos umas estranhas no espaço deles. Fizeram-se algumas atividades na primeira parte da manhã, entre elas rever a cartilha maternal.

cartilha maternal de João de Deus
A cartilha maternal é um livro gigante montado num cavalete de madeira, onde começamos a aprender a ler, normalmente com 5 anos, no ano anterior [bibe azul]. Antes dos 5 anos aprende-se somente as vogais e posteriormente inicia-se a leitura por este método. É talvez um dos que torna as escolas João de Deus diferentes das outras.  

Podemos intervir nas atividades, auxiliar os alunos, anotar tudo o que quiséssemos, ficar com fichas, para por em anexo no relatório final e, a professora, de vez em quando vinha ter connosco e explicava os métodos que usava nas suas aulas. Um deles era o de não estereotipar os alunos. Alunos com mais dificuldades nunca ficariam à parte do grupo, por exemplo. 

No intervalo da manhã estivemos com os miúdos no recreio, onde pudemos conviver melhor com eles. E é inevitável uma criança de 6 anos não querer ser quando for grande cabeleireira, cantora ou bailarina. Nesse momento ganharam mais confiança connosco ao ponto de me dizerem que tinha 17 anos :p
A professora colocou-nos tanto à vontade que até nos convidou para lancharmos e almoçarmos com ela e com as outras professoras. E quando acabou o intervalo pediu-nos que os levássemos para a sala, avisando-os para se comportarem bem com as "senhoras novas", como ela sempre dizia.

Foram três horas de observação que pareceram só alguns minutos. Por mim tinha ficado lá o resto do dia, mas à tarde tive aula. Estas observações são de 3h semanais, no mínimo, mas gostei tanto desta de hoje que vamos já voltar na sexta de manhã, para a mesma turma. É o meu dia livre, mas ao lado de uma nova experiência e num sítio que me diz tanto, o que é que isso importa? Dá logo outro ânimo ter que me levantar ainda de noite.

Tirei montes de apontamentos. Estou completamente fascinada por esta área e a desejar que estas sessões não passem muito rápido. O meu sonho era de, um dia, poder lá trabalhar, ou se não fosse lá que fosse com crianças. Disso tenho a certeza!

Por mais que escreva não chega para demonstrar o quanto estou feliz. E repito novamente isto hoje Valeu mesmo a pena ver nascer o sol em plena viagem de comboio ... estou mesmo no caminho certo! 

Deixo-vos só algumas das minhas fotografias enquanto lá andei :)

3 anos
5 anos
6 anos
Os meninos dos 3 anos são só a coisa mais fofa deste mundo. E os da sala que estive hoje também :)



7 comentários:

  1. Ainda bem que gostaste :) É pena ser pouco tempo, mas tenta tirar o máximo partido. Eu vejo sempre o nascer do dia LOL umas vezes vale mais a pena do que outras, mas pronto...

    Eu nunca frequentei o João de Deus nem qq colégio privado, e não acho que isso faça a diferença na educação das crianças. Não sei se quando tiver filhos e fizer um estudo de mercado a minha opinião mudará, mas eu andei no jardim escola cá da terra e aos 5 anos tb já sabia ler e escrever vogais, e o meu nome também...

    Beijinhos

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    1. Claro que há escolas e escolas, há professores e professores e ainda há alunos e alunos... Eu foi o único colégio privado que frequentei e não tenho nada a dizer de mal, pelo contrário. Assim como ainda ontem ouvi uma colega minha dizer, que também frequentou o João de Deus só até ao 1ºano, que não gostou... O que é certo, e que ainda ontem ouvi da própria diretora, é que o que distingue aquela escola das outras é o facto de os alunos estarem num patamar mais à frente que os das outras escolas... não é que os alunos que venham dos colégios sejam mais inteligentes que os outros, há bons e maus em todo o lado, e por exemplo conheço alunos que sempre andaram na pública e que hoje são futuros médicos... não tem só a haver com o facto de sabermos ler e escrever aos 5 anos, trata-se de todo um conjunto de outras coisas que certamente têm que marcar a diferença do ensino público. Se não para quê pagar uma fortuna, por mês, para lá ter um filho?

      Beijinho

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  2. Como dizia o hino que nos era ensinado por essa bela instituição, eu sou "filha" de João de Deus, com muito orgulho, devo dizer! Agradeço aos meus pais, de todo o coração, a grande oportunidade que me deram! Se hoje não sou um "crânio" foi porque simplesmente não tenho capacidades de o ser, porque as oportunidades estiveram todas lá! Não sou uma "betinha" habituada a colégios privados, a partir do 5º ano sempre frequentei escolas públicas, mas sei reconhecer as diferenças que algumas pessoas parecem não ver ou fingem que não vêm! HÁ DIFERENÇAS, claramente que há. Não era no ensino público que tinha direito a aulas de inglês desde o momento em que aprendi a ler, também não era no ensino público que tinha direito a uma vigilância apertada de um conjunto de profissionais, que ao mínimo sinal de doença, corriam connosco para um centro de saúde sem termos de estar à espera que chegasse o pai ou a mãe saídos a meio do horário de trabalho. Como também não era no ensino público que tinha possibilidade de frequentar uma série de actividades extra-curriculares, de fazer viagens por esse país fora várias vezes por ano...claro que tudo isto tem um preço e um dia, se a minha condição me permitir, é claro que vou querer dar tudo isto aos meus filhos! Se eu poder dar melhor porquê torcer o nariz e fingir que público ou privado é tudo igual? Sejamos francos...Mesmo assim gostei imenso dos meus anos de ensino básico, secundário e agora superior, todos passados no público! Acho, no entanto, que só pelo descanso que os meus pais tiveram, pelas oportunidades que tive em criança que outros meninos não tinham e por tudo o que lá vivi o João de Deus continua a ser o período mais querido da minha infância! :)

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    1. Claramente que o dinheiro paga essas coisas todas!... Agora, se isso faz ou não diferença na vida de uma pessoa não sei porque não o vivi, mas considero que mesmo sem isso tive uma boa educação.

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    2. Hermione, eu não estou a pôr em causa a educação de ninguém :) Eu só passei meia dúzia de anos numa escola privada, o resto foi no público e também me considero uma pessoa bem educada! A educação parte de casa, logo aí as escolas, sendo públicas ou não, têm só uma cota parte de responsabilidade. O João de Deus foi uma óptima experiência que me proporcionou uma boa educação, claro, mas também outras coisas. Só por isso e pela óptima impressão com que fiquei, um dia, se tiver condições, gostaria que fosse também a segunda "casa" dos meus filhos (já que a primeira, onde são dadas as verdadeiras bases da educação será a nossa casa)! :)

      Beijinhos

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  3. Eu estagiei no Colégio de São Teotónio, que também é privado. Estive lá dentro, contactei com alunos e professores, desde o infantário até ao secundário e, sinceramente, depois de um ano não penso que seja uma mais-valia em relação, por exemplo, às escolas públicas que frequentei. Há muitas coisas que não se sabem sobre o funcionamento dessas escolas e sobre o que fazem para se manter no topo... e que, às vezes, põe de lado os interesses dos alunos e dos pais para bem da escola. Mas pronto, não era disso que queria falar... apenas me deixei ir pelos comentários anteriores:p

    Trabalhar com crianças é realmente bom. Eu escolhi a minha área precisamente por isso e por sentir que é na infância que se deve intervir para que as coisas corram bem no futuro. Um bocadinho na linha do "mais vale prevenir do que remediar". Se é o que queres, segue em frente! :)

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    1. Como em tudo, há sempre os contras... por acaso a experiência que tive, apenas até ao 4º ano, foi boa... haviam regras, haviam métodos muito estruturados na forma como os professores davam as aulas, mas nunca senti aquela pressão nem tampouco senti que os meus interesses fossem postos de lado. E acredito bem que hajam escolas, privadas e públicas, que arranjem todas as maneiras para estarem sempre no topo.

      Estou a adorar, mesmo... foi preciso chegar ao último ano da licenciatura para ter mesmo a certeza daquilo que quero :)

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